Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.<
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.<
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
-----------------------------------------Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Visto
que ainda estou a tratar sobre o título do Blog, este belo poema de
Miguel Torga (o qual fiquei a conhecer por intermédio da Inoportuna) parecia-me incontornável.
Aqui,
Torga surge como uma espécie de conselheiro ao malogrado Sísifo. Melhor
dizendo, Torga surge como o próprio Sísifo, conhecedor, como ninguém,
da sua realidade e da sua história, e vem aconselhar outra pessoa, esta
sim num estado sisífico. E o que ele aconselha? Que aja como Sísifo.
Aconselha-
o a não desistir, independente das quedas. O desejo de seguir em frente
tem de persistir. Mas sóbrio, sempre sóbrio. E com a mesma vontade de
ter êxito, como na primeira vez. Não pode contentar-se com pouco, tem de
ir atrás de tudo que deseja, e não descansar enquanto não conseguir
esse tudo. Que não vem de imediato, mas sim aos poucos. Ainda assim, não
podes parar; tens de continuar. Não te esqueças daquilo e de quem és.
Tu só és tu quando és tu mesmo, e as tuas coisas só são tuas quando têm
um pouco de ti.
É
difícil lembrarmos disso quando acbámos de ter uma grande queda, e
estamos estirados no chão. Nossa vontade mais comum é a de querer sair
correndo, xingando a todos, e reclamando da injustiça que é a vida. Mas a
vida é só parcialmente injusta. Àqueles que não cessam o tentar, a
recompensa é inevitável.