terça-feira, 24 de julho de 2012

Em silêncio...

É estranho e raro apanhar-me realmente só. Na maioria das vezes em que não tenho qualquer pessoa ou distracção ao meu lado, enfio-me nas músicas e penso sem de facto ouvir a minha própria voz. Não é que os pensamentos sejam falsos ou dissimulados, mas nunca parecem ser realmente reflexões, mais do que verdadeiros diálogos (ainda que de mim comigo mesmo). 

Mas de facto, há pouco, apanhei-me finalmente só. Conforme havia combinado com a minha mãe, iria hoje fazer o nosso almoço para levarmos amanhã, e não o comecei a fazer até às 23 horas, quando me pus a picar o alho. Foi naquele momento que, pela primeira vez em muito tempo, consegui ouvir o silêncio. Gozei comigo próprio por ter fones no ouvido sem que nada tivesse a escutar, e finalmente ouvi o silêncio. Pensei em interrompê-lo com boa música, mas resolvi aproveitá-lo. 

Mais cedo, estivera a falar com um velho amigo, dos tempos de Hélio Alonso. É curioso a forma como falávamos. Não havia propriamente uma total cumplicidade, mas havia um interesse mútuo sincero. Não fazíamos perguntas rotineiras para cumprir com protocolos sociais. Investigávamos de facto (ainda que de forma leviana) as vidas um do outro. Isso levou-me a uma certa pergunta: Se de facto há este interesse, por que não havíamos falado antes? Pois bem. Pensamento comum à minha pessoa, costumo considerar velhos amigos cujo contacto fora perdido como amizades perdidas, ainda que não seja verdade. Por norma, ainda que eu sinta interesse em voltar a falar com aquela pessoa, costumo sempre arquitectar que muitos anos (6) se passaram, e que a outra pessoa seguiu com a sua vida, e eu não sou senão uma sombra, bastante apagada, de seu passado. Surgir para lhes falar, é como querer forçar a entrada em suas casas, uma violação das suas privacidades. 


Curiosamente, as reacções que obtive das poucas pessoas a quem tive coragem de abordar, foi de algum interesse. Até, por vezes, parece-me que essas pessoas também estavam na defensiva, com receio de me abordar. Será que achavam que eu me considerava bom demais por ter saído país, tanto como eu acho que eles se consideram bons demais por terem seguido as suas vidas?


Somos seres complicados...

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