quarta-feira, 25 de julho de 2012

Miguel Torga - Sísifo

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.<


E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
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Visto que ainda estou a tratar sobre o título do Blog, este belo poema de Miguel Torga (o qual fiquei a conhecer por intermédio da Inoportuna) parecia-me incontornável.
Aqui, Torga surge como uma espécie de conselheiro ao malogrado Sísifo. Melhor dizendo, Torga surge como o próprio Sísifo, conhecedor, como ninguém, da sua realidade e da sua história, e vem aconselhar outra pessoa, esta sim num estado sisífico. E o que ele aconselha? Que aja como Sísifo.

Aconselha- o a não desistir, independente das quedas. O desejo de seguir em frente tem de persistir. Mas sóbrio, sempre sóbrio. E com a mesma vontade de ter êxito, como na primeira vez. Não pode contentar-se com pouco, tem de ir atrás de tudo que deseja, e não descansar enquanto não conseguir esse tudo. Que não vem de imediato, mas sim aos poucos. Ainda assim, não podes parar; tens de continuar. Não te esqueças daquilo e de quem és. Tu só és tu quando és tu mesmo, e as tuas coisas só são tuas quando têm um pouco de ti.

É difícil lembrarmos disso quando acbámos de ter uma grande queda, e estamos estirados no chão. Nossa vontade mais comum é a de querer sair correndo, xingando a todos, e reclamando da injustiça que é a vida. Mas a vida é só parcialmente injusta. Àqueles que não cessam o tentar, a recompensa é inevitável.

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